segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PDT forma comissão para negociar cargo com Dilma

Em reunião, legenda não discute substituto para Carlos Lupi e promete apoio incondicional ao governo. Ex-ministro deve influenciar decisão final

Gabriel Castro
Desgastado por denúncias de corrupção em sua pasta, Carlos Lupi pediu demissão

Desgastado por denúncias de corrupção em sua pasta, Carlos Lupi pediu demissão (Sérgio Dutti)
A cúpula do PDT decidiu, nesta segunda-feira, formar uma comissão especial para negociar com a presidente Dilma Rousseff o espaço do partido na Esplanada dos Ministérios. O grupo vai ser composto pelo presidente em exercício do partido, André Figueiredo, pelo secretário-geral, Manoel Dias, e pelo vice-presidente, Brizola Neto, além dos líderes da legenda  na Câmara, Giovanni Queiroz,  e no Senado,  Acir Gurgacz . O ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, só vai reassumir a presidência do partido no fim de janeiro, mas deve participar do debate.

Desgastado por denúncias de corrupção em sua pasta, ele pediu demissão no último domingo. Foi o sétimo ministro a deixar o governo Dilma.

Na reunião, que contou com a presença de Lupi, os integrantes da legenda optaram por não indicar um substituto para o ex-ministro. Pelo menos por enquanto: “Essa é uma decisão da presidente Dilma. Independentemente de cargos, nós somos da base de apoio da presidente Dilma e cabe a ela indicar o sucessor de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho”, disse André Figueiredo após o encontro.

A cautela do PDT se justifica: o partido nem mesmo sabe se vai continuar à frente da pasta, já que a presidente cogita trocar o ministério comandado pelo PDT. Os integrantes da legenda vão ter de aguardar um sinal de Dilma para discutir possíveis indicações. Exatamente por isso os pedetistas formaram a comissão encarregada de negociar com o Planalto.

Após queda de Lupi, PDT deve perder comando do Trabalho

Ministro das mentiras em série deixou o cargo neste domingo, depois do aviso que seria demitido. PT cobiça o ministério. E Dilma avalia passá-lo ao PMDB

O ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi: queda após escândalos e mentiras
O ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi: queda após escândalos e mentiras
 (Sérgio Lima/Folhapress)

O escândalo que culminou na demissão do ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, deve custar ao PDT não apenas a cabeça do titular da pasta, mas também a perda do ministério. Na reforma ministerial que pretende iniciar em janeiro, a presidente Dilma Rousseff deve tirar o partido do comando do Trabalho – até lá, deve manter no comando o secretário-executivo da pasta, Paulo Roberto Pinto, que assumiu interinamente neste domingo, horas após Lupi entregar sua carta de demissão.

De acordo com a edição desta segunda-feira do jornal Folha de S. Paulo, a possibilidade de perder o ministério já é cogitada até mesmo entre lideranças pedetistas. Mas a sigla não admite perder a pasta para o PT. Os partidos travam uma guerra pelo comando do Trabalho que tem por trás uma antiga disputa entre a CUT, central sindical ligada aos petistas, e a Força Sindical, ligada ao PDT.

Já o jornal O Globo informa que existe até mesmo a possibilidade de que o PMDB assuma o ministério, que pode ser fundido ao da Previdência. A presidente Dilma deve dar início à reforma em janeiro, assim que retornar de suas férias de dez dias. Lupi optou por pedir demissão no domingo após uma reunião com Dilma no Palácio do Planalto. Durante o encontro, a presidente lhe informou que sua situação ficara insustentável e que o ministro seria demitido na segunda-feira. A única opção de Lupi era, portanto, antecipar-se à decisão.

Ele se tornou o sétimo integrante do governo Dilma a sair da equipe, desde o início do mandato da presidente, em janeiro – e o sexto a abandonar o cargo por causa de envolvimento com corrupção.

A queda de Lupi acontece depois de uma recomendação da Comissão de Ética da Presidência da República, na quarta-feira passada. A presidente Dilma a princípio pediu esclarecimentos sobre o parecer ao grupo, mas, por fim, decidiu demitir Carlos Lupi.

A derrocada do ministro começou quando VEJA trouxe à tona, em edição de 5 de novembro, o envolvimento de Lupi em um esquema de corrupção. Caciques do PDT, comandados por ninguém menos que Lupi, transformaram os órgãos de controle da pasta em instrumento de extorsão. Conforme relatos de diretores de ONGs, parlamentares e servidores públicos, o esquema funcionava assim: primeiro o ministério contratava entidades para dar cursos de capacitação profissional, e depois assessores exigiam propina de 5% a 15% para resolver 'pendências' que eles mesmos criam.

Nas semanas seguintes, VEJA mostrou que Carlos Lupi usou avião alugado pelo presidente de um ONG que fazia parte do esquema, Adair Meira. As entidades de Meira tinham contratos milionários com o ministério. Em nota, o ministro negou que tivesse embarcado no King Air, de prefixo PT-ONJ. No entanto, dias depois fotos mostraram o ministro desembarcando no município de Grajaú justamente no King Air providenciado por Adair Meira. Vídeo obtido com exclusividade pelo site de VEJA confirmou a farsa. Sem opção, ele tentou desfazer as mentiras e entrou em contradição. Era tarde demais.